por Sérgio Marchetti*
“(…) Que saudade da professorinha que me ensinou o bê-a-bá (…)”
Sentir saudade de um tempo é viajar sem bagagem. É voltar à infância numa rua calma do interior de Minas Gerais…
É reencontrar a magia dos Natais em família, com tios, avós, pais e parentes que hoje vivem apenas na memória — mas que, dentro da gente, como estrelas, continuam acendendo luzes que nunca se apagam.
Recordar é um gesto simples, mas poderoso. Lembrar-se de quando a vida era descomplicada, as amizades eram de corpo presente e, algo “virtual”, existia somente nas fantasias de filmes de ficção, hoje, mais do que saudosismo, é reviver, é alento.
Dizem, os mais modernos, que falar “no meu tempo” é ultrapassado, sinal de que ficamos presos ao que já passou. Isso mesmo, leitores de boa memória. Mas, comunicação verdadeira, — aquela que toca, acolhe e conecta — nasce do respeito às diferentes formas de viver e de lembrar.
Eu aplaudo quem vive o agora com intensidade. Mas aplaudo, ainda mais, quem consegue viver o presente sem apagar o passado; quem valoriza as gavetas da antiga escrivaninha, onde guardamos hábitos que quase desapareceram, a exemplo do respeito, da honestidade, do carinho pelos mais velhos, da família reunida na sala, da privacidade que era ouro, e não algoritmo.
Nem todo passado é doce, é claro. Há dores que não merecem saudade e amargam nossas almas. Mas até aquelas dores têm parte na construção de quem somos. Moldaram caráter, fortaleceram escolhas e se transformaram em farol para as atitudes futuras.
Adaptar é necessário — e fazemos isso diariamente. Mas ignorar a própria história é inaceitável. O passado é raiz e cultura. É a prova de que existimos, antes de sermos pessoas on-line.
Os pensadores antigos, longe do “meu tempo”, seguem vivos em nossas memórias, são referências, têm seguidores, sem jamais terem precisado de curtidas. Permanecem vivos em experiências, invenções, obras e muito mais.
E talvez a vida seja isso: viver o presente com os pés firmes, mas com a alma grata pelo que nos trouxe até aqui. Porque, depois de algum tempo, a gente aprende que somente quando estamos maduros é que conseguimos perceber verdades que já foram invisíveis aos olhos, mas que, atualmente, podemos vê-las com o coração.
E descobrimos, no fim das contas, que o passado não é lugar de moradia — mas é lugar de afeto, de sonhos que tivemos e de ilusões.
E é com afeto, sonhos, e até ilusões, que seguimos construindo nosso caminho, pelo menos enquanto tivermos acesa a chama de nossa luz.
*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br