Alexandre Heringer Lisboa – Engenheiro
O engenheiro da Cemig é, antes de tudo trabalhador e cidadão, dotado de paixões e pertencente a uma comunidade humana. E profissionalmente, como um ser cartesiano, deve acreditar que todo problema deve ter uma solução. Desse amálgama surge um profissional que deveria estar disposto a correr riscos, sofrer pressões, mesmo que arrisque a não ser reconhecido pelos superiores, mas ter como meta principal cumprir com dignidade seu papel e tentar utilizar todo seu conhecimento em prol dos grandes problemas dentro de sua área.
É com muita tristeza que constato que grande parte de meus ex-colegas romperam com esse preceito de um engenheiro e abandonaram o laço que mais nos unia até tempos recentes: a solidariedade com colegas com quem trabalharam tantos anos juntos. Juntos conquistamos inúmeros benefícios e boas condições de trabalho, que hoje estão sendo jogadas no lixo.
Há uns tempos atrás corríamos todos os riscos, ameaças e enfrentávamos de cabeça erguida as pressões que viam da direção da Cemig durante as Campanhas salariais, as quais eram muito mais vantajosas financeiramente e menos prejudiciais do que a péssima proposta da empresa em 2021-2023. E dessa forma, construímos com inovação, criatividade, pioneirismo e competência o invejável nome que a Cemig sustentava até recentemente. Quantos projetos, empreendimentos, processos e modi operandi nossos que receberam reconhecimento até internacional?
Não há a menor justificativa – administrativa ou financeira – para esse desmanche de direitos adquiridos no pós-emprego. Todo Programa de desligamento voluntário que a empresa promove existe um estudo de custo-benefício, onde todos parâmetros econométricos, taxas de retorno e valor presente liquido são simulados, à luz de indicadores e variáveis. Quando se decide em dar os benefícios pós-emprego, a empresa já está precificando todos custos e fluxo de caixa futuro, sob diversas conjunturas. Então ao nos roubar esse direito isso só depois sobre o caráter perverso dessa administração, além da conhecida incompetência.
Ao se renderem ao discurso fácil e intimidatório da direção da Cemig, alguns por desconhecimento posto que tem pouco tempo de empresa, uns por medo e muitos por puro oportunismo mesmo, achando que serão premiados (alguns com certeza o serão), não só jogam essas conquistas e anos de convivência no lixo, como também ajudam agora a criar um clima interno extremamente prejudicial e profissionalmente insano, além de um perigoso precedente, que essa direção aproveitará para levar até o fim seu plano de privatizar, precarizar relações trabalhistas e retirar as últimas conquistas.
Lembro que não só prejudicam extremamente os colegas aposentados, mas principalmente a todos da ativa, que continuarão ainda na empresa e que um dia aposentariam em boas condições. Arriscam o futuro da própria família ao darem aval à destruição progressiva do Cemig Saúde e da Forluz. E pior, ficarão agora convivendo com ameaças e pressões constantes, já que agora sinalizaram fraqueza e assim abrem as portas para que essa desastrada gestão da Cemig prossiga com a política ilegítima, covarde e ilegal de perseguição a quem não rezar seu credo.
Mais desapontado fico com gerentes e superintendentes que aceitaram participar dessa trama, pressionando subordinados, fazendo ameaças e renegando seu papel de liderança. Logo esses administradores que foram tão duramente perseguidos nesse desastre de gestão, perdendo cargos e sendo trocados por paraquedistas, neófitos e oportunistas cujo maior mérito era serem amigos e militantes do tal partido NOVO.
Um verdadeiro líder não se curva a pressões e ameaças. Ser gerente ou superintendente da Cemig deveria ser uma grande honra e inspirar em cada um a verdadeira grandeza de um líder, mesmo que isso custe um cargo, uma promoção ou mesmo um demagógico elogio. É muito melhor seguir a própria consciência e ética do que formar fila com o atraso.
A Cemig é muito maior do que essa atual diretoria e seu resgate de empresa referência e com que me orgulho de ter trabalhado, superará essa incontinência da história. E aos ex-colegas gerentes e superintendentes que hoje mancharam essa marcha da Cemig rumo a seu futuro mais radioso, lembro que depois dos cumprimentos dos seus diretores por cumprir esse perverso papel, estão inevitavelmente na lista de próximos “descartáveis”. Exatamente como consideraram os trabalhadores aposentados.
Mas sejamos otimistas. Vamos esperar que essa decisão dos ex-colegas engenheiros tenha uma reviravolta, seja jurídica ou negocial, que impeça a concretização dessa vergonhosa proposta.
Importante: O Sindicato de Engenheiros deixa esse espaço à disposição de outros profissionais que tenham posição diferente e também queiram se manifestar.