
Sindicalistas, movimentos sociais e especialistas em energia e saneamento de Minas Gerais se uniram no Seminário Popular contra a Privatização da Cemig e Copasa, realizado na Faculdade de Direito da UFMG, para defender um patrimônio que é do povo: a água e a energia.
O evento, que aconteceu na última quarta-feira (6/8), deu voz à resistência popular, reunindo sindicatos, especialistas e lideranças políticas para denunciar o modelo de gestão do governo de Minas e fortalecer a luta contra a venda das empresas estatais. O foco do debate foi mostrar os impactos que a privatização de empresas como a Cemig e a Copasa traria para o desenvolvimento social e econômico do estado.
Desmonte por dentro: a estratégia de enfraquecimento das estatais
Embora o governador Romeu Zema ainda não tenha conseguido derrubar o referendo popular que impede a privatização sem a consulta à população, o alerta dos trabalhadores é claro: há sete anos, o governo tem adotado uma política de sucateamento deliberado das empresas.
Murilo Valadares , presidente do Senge MG, lembrou que a privatização é um ato ideológico e um retrocesso democrático, pois ignora o direito da população de decidir sobre o futuro de suas empresas.
Emerson Andrada, coordenador geral do Sindieletro, denunciou a estratégia: “O que vemos é uma tentativa de desmontar por dentro o que não conseguiram entregar por fora. A Cemig e a Copasa estão sendo geridas com foco no lucro dos acionistas, não no serviço público de qualidade para a população”.
Essa lógica privatista já tem consequências diretas para a população e os trabalhadores: aumento nas tarifas de água e energia, precarização dos serviços com o aumento da terceirização, má qualidade no atendimento, pequenos apagões e, para os funcionários, um ambiente de trabalho que causa adoecimento generalizado, com casos de assédio moral.
O povo como guardião do patrimônio de Minas
Especialistas presentes no seminário reforçaram que os setores de saneamento e energia são monopólios naturais, ou seja, não existe concorrência real. Isso torna ainda mais grave a entrega dessas empresas ao setor privado, cujo objetivo principal é o lucro, e não o atendimento universal e de qualidade.
A pressão popular, exercida por movimentos sociais, sindicatos e parlamentares, tem sido a principal responsável por barrar a PEC do Cala-boca (PEC 24/2023), que busca autorizar a venda das estatais sem a realização do referendo popular. A proposta segue paralisada na Assembleia Legislativa.
A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) destacou a importância da mobilização social, alertando que as reações no parlamento geralmente vêm tarde demais. “Hoje, quem cumpre o papel de vigilância são os movimentos populares e sindicais”, afirmou.
Emerson Andrada, do Sindieletro, ecoou essa visão: “O povo mineiro é o verdadeiro dono da Cemig e da Copasa. E nós, trabalhadores e movimentos, estamos atentos, vigilantes, lutando para impedir a votação dessa PEC e para que possamos restaurar no futuro o caráter público e social dessas empresas”.
Transição energética com soberania e justiça ambiental
A economista Clarice Ferraz, pesquisadora do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, trouxe para o debate a questão da transição energética. Ela alertou sobre os riscos de um modelo privatizado que pode agravar a degradação ambiental. Fontes renováveis, como a energia eólica e solar, podem ser implementadas de forma desordenada, causando desmatamento e desertificação, como já ocorre em outros estados.
Amauri Pollachi, especialista em Saneamento e Recursos Hídricos, fez um alerta comparando a Copasa com a Sabesp, a empresa de saneamento de São Paulo que foi recentemente privatizada. “A experiência paulista mostra que a privatização ameaça a universalização dos serviços, aumenta tarifas e reduz a transparência”, explicou. Ele ressaltou que a regionalização do abastecimento pode impedir o acesso de alguns municípios aos serviços básicos de água e saneamento.
Uma história de sucesso em risco
Falas emocionadas de antigos gestores, como o ex-diretor da Cemig, Aloisio Vasconcelos, trouxeram à tona o papel histórico das empresas na construção de Minas Gerais. Ele lembrou que a Cemig levou energia aos pontos mais remotos do estado e que a Copasa resolveu crises de abastecimento em pouquíssimo tempo.
Eduardo Pereira, presidente do Sindágua, contrastou essa história com a gestão atual: “Hoje, ao invés de investir, o governo prefere culpar os outros. Se dependesse do atual modelo, faltaria água por conveniência política”.
O evento reforçou a mensagem de que Minas Gerais possui a força, o conhecimento e a organização necessários para lutar contra a privatização de suas riquezas. A soberania popular sobre a água e a energia é uma luta que passa pela defesa do público, da vida e do território.


